OPINIÃO DOS LEITORES
Os Livros do Rui
Há muito que conhecia o jeito para a escrita do Rui
Canas, o meu primeiro chefe nos escuteiros e meu amigo de muitas
décadas. Tomei-lhe o gosto nos já longínquos anos 70,
quando, jovem
escuteiro (explorador) lia, com um fervor quase religioso, “O Balafom”
uma revista escutista policopiada que os nossos irmãos escutas do 62, em
serviço militar no então Ultramar, elaboravam, imprimiam e nos remetiam.
Penso que o fervor e a alegria de todos, dos que a faziam e dos que a
liam, era o mesmo e que era isso que lhe dava aquele gostinho especial
de coisa rara e preciosa. Depois, com o "Impiza", muito dei ao braço
para imprimir a revista num velho duplicador manual de stencil Gestetner!
Por isso, foi com
uma redobrada alegria que, recentemente, tomei de novo contacto com a
sua escrita, através do seu primeiro livro “Portugal – Farol da Europa”.
O livro é, na minha opinião, um trabalho sério e objectivo, escrito numa
linguagem simples, directa e acessível, sem pretensiosismos literários
bacocos. E, no entanto, até a mim, que sou um leitor compulsivo mas
(muito) selectivo, de múltiplas leituras simultâneas, me conseguiu
agarrar, pela genuinidade da escrita!...
Ironicamente,
tempos antes, com a sua habitual modéstia, o Rui tinha-me confessado não
saber se estaria à altura de tão grata missão. Tratava-se de uma
temática inédita, de cariz quase histórico, e havia que não desapontar as
expectativas criadas na sua comunidade religiosa. Era uma oportunidade
única, cujo potencial não se podia desperdiçar com um
trabalho menos
conseguido.
Sosseguei-o.
Disse-lhe: “De certeza que vai sair um bom trabalho, pois nunca te vi
fazeres nada mal. Conhecendo-te como te conheço, vais dar tudo de
ti e vai sair um trabalho a preceito, para ninguém pôr defeito...” E
assim foi.
Durante um almoço
recente de antigos escuteiros do Agrupamento 62 do Corpo Nacional de
Escutas, a propósito dos 75 anos da sua fundação, tinha sido lançada a
ideia de um livro de memórias. Nessa altura, falando-se de quem poderia
dar tais testemunhos, o nome do Rui Canas mereceu, desde logo, consenso.
Para mim e para muitos outros, era a pessoa mais habilitada para falar
desses tempos, os Anos de Ouro do 62, entre as décadas de 60 e 80.
Imaginem, por isso,
a alegria e a expectativa com que recebi a notícia de que o Rui se
preparava para editar o seu próprio livro de memórias. Revendo-me em
muitos desses
momentos, desde
lobito a dirigente, apressei-me a encomendá-lo a título de prenda de
Natal (“a minha prenda de Natal”) e aguardei, ansiosamente, notícias. Muitos
outros o terão feito,
certamente...
Alguns dias depois,
recebi esse tão esperado objecto de desejo e, como curioso que sou, não
resisti, desde logo, a dar-lhe uma vista de olhos, esperando “devorá-lo”
mais tarde, calmamente e com tempo. Engano meu!... Só descansei quando
li o livro todo, de uma assentada, algo que há muito tempo não me
acontecia, e já recomecei a lê-lo, agora mais calmamente, apreciando
cada momento com especial sabor.
Para meu deleite, a
escrita do Rui, simples, objectiva, directa, sem floreados
desnecessários,
transportou-me no
tempo, fazendo-me reviver tão gratos momentos, desde a recuperação da
sede dos lobitos até à compra da sede regional, passando pela
concretização do parque de escutismo na Arrábida, gorada que foi a
tentativa de o fazer na Quinta do Álamo, no Seixal.
Em todos esses
momentos, o autor de “Aventuras de Escuteiro” se destacou, assumindo um
papel que relevo que me apraz registar e relembrar, para memória futura.
Obrigado e
bem-hajas, meu amigo!...
Boa caça
Carlos Mendes
(Setúbal – Portugal)